Como educar uma criança sem mimá-la
Atitudes simples que os pais tomam desde o primeiro ano de vida da criança ajudam a mostrar a importância de respeitar o próximo e fazê-la entender que o mundo não gira em torno de seu umbigo.
Quando falamos em crianças mimadas vem à cabeça aquela cena típica de uma se jogando no chão da loja de brinquedos e gritando por aquilo que a mãe se nega a dar. Mais do que isso (e pior): no final da história, ela consegue o que quer. O conceito de mimado não se resume a esse tipo de comportamento, mas tem relação com ele.
Segundo Vera Zimmermann, professora de psiquiatria da Unifesp, a criança mimada é aquela que não foi educada para aceitar uma frustração e sempre reage querendo se posicionar no centro das atenções. Claro que pai nenhum deseja ter um filho assim, mas nem sempre os casais percebem que estão estimulando comportamentos ruins. Educar uma criança é difícil mesmo, mas a boa notícia é que atitudes simples, praticadas diariamente, fazem a criança entender, aos poucos, que ela não pode tudo.
Durante os primeiros meses de vida, o bebê precisa ser satisfeito em todas as suas necessidades. Ao menor sinal de reclamação, os pais correm para dar leite, ninar ou aquecer. Afinal, ele ainda é totalmente dependente da família para sobreviver. Essa dedicação integral também é importante para que se forme uma base sólida de autoestima. Mas, aos poucos, a criança se desenvolve e começa a interagir com o mundo. A partir de então, ela precisa ter limites e regras para entender que nem tudo é para já e que nem todos os seus desejos serão satisfeitos. Afinal, é assim que a vida é. Com a ajuda da psiquiatra, listamos algumas dicas para você colocar em prática desde cedo.
Bebês
Durante o primeiro ano de vida, o bebê já passa por algumas frustrações, como querer sair do cadeirão quando é hora de ele comer e de ficar ali. Porém, como ainda não traduz seus sentimentos em forma de palavras, pode manifestá-las por meio de gestos. Bater no rosto da mãe ou do pai ou puxar o cabelo são algumas dessas formas. Mesmo pequena, os pais devem mostrar que aquilo não se faz. Para isso, nada de palmadas. Basta segurar a mão do bebê, fazer contato visual e demonstrar que aquilo é errado. Os pais também precisam entender o que causou essa reação, para saber se é algo que podem resolver ou com o qual a criança terá que lidar mesmo.
A partir de 1 ano
Conforme a criança cresce, ela também entra em contato com plantas e animais. Está aí uma ótima oportunidade de ensiná-la a cuidar do mundo ao seu redor. A tendência da criança é sempre tocar as coisas. No caso de plantas, os pais podem mostrar que não se deve arrancar as folhas de uma árvore ou um arbusto e, caso isso aconteça, pedir que os filhos façam uma reparação, como regar a muda. No caso de convivência com animais (que deve acontecer sempre com a supervisão dos pais), o próprio bicho pode impor seus limites e mostrar que com ele nem tudo é permitido – um exemplo é o cachorro rosnar se ela puxa o rabo dele. Segundo Vera, por meio desses contatos, a criança percebe que, assim como ela recebe cuidado de seus pais, precisa cuidar de coisas a seu redor.
Creche e pré-escola
Os primeiros contatos com crianças da mesma faixa etária são muito interessantes. Seu filho terá de aprender que cada um tem o seu jeito e suas preferências, e que às vezes é preciso ceder. O brinquedo será motivo de muitas brigas e aprender a dividir algo com o outro será um dos desafios nessa fase.
Apesar de a criança já ter necessidade de verbalizar seus desejos e suas frustrações, o adulto precisa impor limites com a ajuda de gestos. Ou seja, ao dizer não, sinalize com a mão, olhe diretamente para a criança e mantenha um tom de voz calmo, mas firme. É possível que a criança tenha ataques de fúria, acompanhados de choro e até mesmo agressões físicas, como mordidas. Exigir um pedido de desculpas por esse comportamento é fundamental.
Dos 3 aos 6 anos
Nessa fase, a criança já está mais adaptada ao convívio social e vale reforçar, por exemplo, noções como desperdício. Ela pode aprender, aos poucos, a diferenciar o necessário do exagero. Atitudes como doar brinquedos que já não são usados, se desfazer de alguma roupa cada vez que uma peça nova é comprada ou colocar no prato apenas o que se come são algumas ideias. Saiba que, com cerca de 3 anos, a criança já entende que aquilo que ela doa não voltará mais e tem capacidade para definir qual item não é mais tão importante.
No contexto familiar, os pais devem, como sempre, incentivar e valorizar a ajuda da criança, mesmo que ela pareça pequena. Ela pode organizar os brinquedos, estender a colcha na cama, colocar a roupa suja no cesto ou levar o prato para a pia. Essas ações podem fazer parte da rotina sem que se tornem um esforço chato para os filhos.
A partir dos 7 anos
A criança começa a entender melhor as regras – e pede por elas. Até então, já compreendia limites impostos por seus pais, mas, no caso de brincadeiras, por exemplo, ainda seguia sua imaginação. No entanto, por ser uma fase muito competitiva – a vontade de ganhar e de ser o melhor é enorme. Por causa dessas características, é quando algumas crianças roubam para ganhar, inventam regras e brigam por elas, evitam jogos ou esportes em que não são tão experientes e ficam muito frustradas quando perdem.
Para não abalar a autoestima dos filhos, os pais precisam mostrar que habilidades podem ser desenvolvidas e deixar claro que não dá para ser 100% em tudo. Nem pense em aplacar a frustração da criança deixando-a ganhar sempre. Você pode ajudá-la a melhorar e, ao mesmo tempo, ensiná-la a reconhecer a habilidade do outro. Também não caia na tentação de colocar o seu filho sempre como vítima da situação – se ele foi mal na prova, não necessariamente a prova estava difícil, pode ser que não tenha estudado o suficiente mesmo. A atitude exatamente oposta, de culpar a criança por tudo, também não é saudável. Diálogo e carinho são fundamentais. O mesmo vale para quando você flagrar o seu filho roubando em um jogo de tabuleiro, por exemplo. Além de reforçar que essa atitude não está correta, dê exemplos, como quando o time de futebol preferido dele perdeu. É uma forma de ele entender que não dá para ganhar sempre.