Puberdade: como lidar com os filhos que estão nessa fase da vida
Mudanças hormonais, físicas e emocionais são características desse período em que o indivíduo deixa de ser criança para entrar na adolescência. Confira as dúvidas mais frequentes respondidas por especialistas.
Ao longo da vida o corpo humano cresce, se modifica, evolui e desenvolve. Do nascimento à terceira idade, são muitas fases de transição, momentos em que o indivíduo passa por mudanças físicas e mentais. A puberdade é uma dessas fases, e talvez a mais complicada.
Na puberdade não é apenas o corpo que passa por alterações mas também o emocional e o psicológico, já que esse é o momento mais latente de formação de personalidade e caráter.
Deixa-se de ser criança para, muito em breve, tornar-se adolescente, e conviver com mudanças físicas e responsabilidades sociais nunca antes experimentadas.
É na puberdade que acontecem as mudanças significativas, tanto físicas como psicológicas que, muitas vezes, levam os adolescentes a terem um comportamento mais temperamental e agressivo. “Salto no crescimento, acnes, menstruação, odores no corpo, variação de humor, baixa autoestima, rejeição, aumento de atividades na escola, mais responsabilidade em casa, reconstrução da autoimagem e confirmação da identidade. Tudo isso ao mesmo tempo, e de uma hora para outra, torna a vida do adolescente um grande desafio.”
Não é um momento fácil, portanto o apoio dos pais ou responsáveis nesse momento é de extrema importância, e de preferência que seja de muita confiança, sinceridade e parceria. Pode não ser simples aceitar que os filhos cresceram e que a partir de agora eles terão questões bem mais difíceis de serem respondidas. O melhor treino para esse momento é o da amizade, que orienta certo, sem censuras exageradas ou meias verdades.
Por ser uma fase complexa, muitas dúvidas vivem rondando o assunto. Você pode entender melhor todos os aspectos dessa mudança conferindo as respostas de especialistas no assunto:
1. O que é a puberdade e quando ela ocorre?
A puberdade é a fase em que ocorrem as maiores mudanças em meninas e meninos. O corpo passa por um amadurecimento físico onde adquire os chamados caracteres sexuais secundários, que são traços que o corpo vai adquirindo ao longo do tempo.
Corpo e mente dos indivíduos passam por mudanças e o momento pode ser variado para cada pessoa. Tanto as meninas quanto os meninos passam por essa fase que marca o amadurecimento do corpo do adolescente. Para cada adolescente existirá um momento particular, mas costuma ocorrer entre 10 e 14 anos de idade. Mudanças de comportamento também são observadas tais como o aparecimento de desejo sexual devido às mudanças hormonais, impulsividade etc.
2. O que muda no corpo da menina e do menino na puberdade?
As características mais fortes da puberdade são as mudanças físicas. No geral, meninos e meninas crescem em tamanho. Também podem ter problemas com a pele mais oleosa – o que gera acne e espinhas. Os pelos do corpo aparecem para todos, assim como mais suor e uma possibilidade de odores mais fortes. Mas nunca se esqueça de levar em consideração o biótipo e o tempo de cada um.
Além dessas características gerais para ambos os sexos, também existem aquelas que são exclusivas de cada um:
Meninas
Crescimento dos seios: Nas meninas, uma das alterações mais representativas é o crescimento das mamas. Desde o que é chamado de broto mamário até o desenvolvimento por completo. Depois de passada a puberdade, os seios só mudarão de formato devido a outros fatores.
Menstruação: Também é na puberdade que ocorre a primeira menstruação, chamada menarca. Isso quer dizer que a menina já tem capacidade de engravidar, o que obviamente não quer dizer que ela deve, afinal não é apenas a menstruação que define quando o corpo e a mente estão preparados para tal empreitada.
Pelos: Os pelos começam a aparecer, nas pernas, axilas, e na área pubiana.
Formato do corpo: Nessa fase ocorre uma mudança da distribuição de gordura pelo corpo, que passa a ter mais o formato de um violão – a cintura fica mais definida e os quadris mais largos.
Meninos
Formato corporal: A estrutura física do adolescente vai mudando com o aumento dos músculos e ombros mais largos.
Pelos: Os pelos pubianos também começam a despontar, mas diferente das meninas, eles também surgem nos testículos, no rosto (a barba), no tórax e, às vezes, nas costas.
Genitais: Pênis e testículos crescem e começam a aparecer mais. O tamanho do pênis, assim como o das mamas nas meninas, é definido durante a puberdade e provavelmente não vai mudar após ela passar.
Ejaculação: É na puberdade que normalmente ocorre a primeira ejaculação – liberação de esperma através do pênis -, seja sem querer ou por estímulo.
Troca de voz: Os meninos passam por esse período, que certas vezes pode ser bem constrangedor, chamado mudança de voz. Ela ocorre devido ao crescimento da laringe, provocado pelo aumento da testosterona, que estica as cordas vocais e deixa a voz meio “desafinada”. Passado esse período a voz irá engrossar.
Mamas: Nos meninos também pode ocorrer um leve inchaço das mamas, o que causa muito desconforto em alguns, mas é normal e costuma sumir depressa.
Pomo de adão: É uma cartilagem próxima à laringe que começa a despontar na puberdade. Essa característica é apenas natural do sexo masculino.
3. Na puberdade os adolescentes têm mais suor ou um cheiro mais forte nas axilas?
“Sim, é verdade que os adolescentes e as adolescentes têm suor de odor mais forte, podendo até ficar com cheirinho ruim. Isso ocorre porque as mesmas substâncias que o corpo produz para proporcionar o amadurecimento também mudam as características do suor”, esclarece a ginecologista e membro da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais, Karine Ferreira.
4. Alguns adolescentes têm mais mudanças que outros?
Quem explica é o ginecologista e obstetra Dr. Domingos Mantelli: “Isso vai depender muito dos fatores genéticos de cada um, da hereditariedade, da etnia, da regionalidade. Por exemplo, japonesas têm menos mama e pelos pubianos que as ocidentais. As turcas têm mais pelos do que as ocidentais. Vai depender de todos esses fatores. É uma questão de individualização”.
5. Ao chegar à puberdade o adolescente necessariamente vai ter espinhas no rosto? É possível prevenir esse problema?
Mais uma vez os hormônios entram em cena. São eles os responsáveis pelo aparecimento de espinhas tão comuns nos adolescentes. A Dra. Karine Ferreira sugere que apesar de serem comuns, não acontecem em todo mundo e dependem muito da sensibilidade de cada pessoa a esses hormônios. Ela também indica como o problema pode ser prevenido:
“Lavar o rosto adequadamente e evitar cremes oleosos pode ajudar na redução das espinhas e, em caso de persistência ou de grande quantidade das mesmas, há vários tratamentos possíveis com o dermatologista. Um aspecto importante é não espremer para evitar a formação de cicatrizes ou manchas”, aconselha.
6. É verdade que na puberdade o adolescente tem a libido mais ativa? O que os pais podem fazer para orientar os filhos e as filhas nesta fase?
Falar com os filhos sobre sexo raramente é algo confortável para os pais. Mas mesmo com tanta insegurança é importantíssimo que se faça um esforço real. Afinal, é em casa e com as pessoas mais íntimas que se consegue as respostas mais preocupadas com o bem estar e isentas de um possível bullying. Certamente vai ser melhor que seu filho ou filha saibam o importante através de fontes seguras e não por revistas ou amigos que podem dizer muitas besteiras, não é mesmo?
O desejo sexual surge na puberdade e os pais devem estar atentos a essas mudanças e procurar estabelecer um canal aberto de diálogo: Primeiro os pais devem se informar e tirarem suas próprias duvidas antes de falar com os filhos, assim garantirão que estarão passando informações corretas e com mais segurança. Procure estar tranquilo e seguro e isso facilitará a conversa de vocês. Esclarecimentos sobre como praticar sexo seguro, consequências como doenças e gravidez devem ser abordados. Quanto mais informação seus filhos tiverem, menos consequências graves eles terão que assumir. E quanto mais calmos os pais estiverem, mais tranquila será a conversa.
7. Masturbação faz mal? Existe um limite? Até que ponto isso é saudável para o adolescente?
O autoconhecimento é importante em todas as fases da vida. Esse aprendizado pode fazer toda a diferença na relação do jovem com os outros e consigo mesmo. E neste aprendizado está incluída a masturbação que, infelizmente, ainda é carregada de muito tabu e inverdades. Porém, ela não deve ser considerada como algo imoral ou vergonhoso, apesar de muito íntimo.
A Dra. Erika Esteves confirma que a prática da masturbação na adolescência é saudável “na medida em que permite que esse indivíduo conheça melhor seu corpo e aprenda como se dar prazer. Isso também tem aspectos positivos na autoconfiança do adolescente”.
A atividade só não é considerada saudável quando o adolescente passa a desprender um tempo muito grande nessa descoberta solitária e deixa de conviver com os amigos e de participar de atividades sociais, ou seja, quando a masturbação é utilizada como escape por medo de enfrentar relacionamentos afetivos, medo de rejeição ou baixa autoestima e o adolescente fica apenas em um mundo fantasioso e solitário é preciso ficar atento. Caso esse comportamento persista, os pais devem se aproximar dos filhos para entender melhor se está havendo algum tipo de sofrimento emocional e, em caso positivo, a ajuda de um psicólogo pode ser bem vinda.
8. É normal que na puberdade o menino e a menina acordem molhados por terem momentos de excitação durante o sono? Isso deve ser algo preocupante?
O Dr. Domingos Mantelli esclarece que é normal e não é preocupante, mas é interessante que os pais conversem com seus filhos, pois é comum a menina sentir excitação e o menino ter uma ereção. O ginecologista, no caso das meninas, e o urologista, no caso dos meninos, podem ajudar os pais a entender o que acontece para que lidem melhor com a situação.
9. A partir de que idade o adolescente está com o corpo pronto e formado para o sexo? Como o adolescente pode identificar se está pronto para perder a virgindade?
Não é só o corpo que precisa estar preparado para a atividade sexual, também é necessário um amadurecimento psicológico e emocional. Não existe um momento exato onde se está ‘pronto para perder a virgindade’. O acontecimento deve ser determinado mais pela maturidade emocional e afetiva do que pelas mudanças físicas. A melhor circunstância é aquela na qual o(a) adolescente seja capaz de escolher com consciência a pessoa com quem terá a relação sexual e que esteja bem consigo mesmo(a), esclarece a ginecologista Karine Ferreira.
Em termos biológicos é a primeira menstruação que determina que o corpo feminino está amadurecido para a concepção, e a primeira ejaculação do menino também demonstra o seu amadurecimento biológico. O ideal seria que o adolescente estivesse emocionalmente seguro e psicologicamente amadurecido para lidar com as possíveis frustrações, ciente de que a vida sexual traz responsabilidades, como gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.
10. Meninos também precisam ir ao ginecologista? O que devem perguntar ao médico na consulta?
Responde a Dra. Karine Ferreira: “Os adolescentes do sexo masculino, como qualquer pessoa, devem ter um acompanhamento de saúde que pode ser com o clínico, pediatra, hebiatra (médico especializado em adolescentes dos dois sexos) ou, mais precisamente, com um urologista, quando quiser uma avaliação mais específica da parte genital. Não há perguntas específicas. O adolescente deve aproveitar para esclarecer as suas dúvidas e ter consciência de que não há perguntas bobas”.
11. Quando a puberdade terminar eu me tornarei um adulto? O que isso significa em termos físicos e hormonais?
”Em termos hormonais, significa que os hormônios vão estar mais estáveis, não mais em elevação, mas constantes. O físico vai ficar o do momento e não vai desenvolver mais. Ou seja, a voz do menino não vai engrossar mais, assim como o pênis não vai aumentar. Na menina, para citar um exemplo, as mamas vão estacionar, não vão crescer mais”, esclarece o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli.
12. Se o adolescente demonstrar desconforto com a identidade de gênero relacionada ao seu sexo físico, como orientá-lo?
O chamado transtorno de identidade de gênero é experimentado quando o indivíduo sente desconforto com o seu sexo de nascença. O adolescente que manifesta esse desconforto em relação ao seu gênero sexual pode apresentar um intenso sofrimento psíquico, pois não consegue se identificar naquele corpo que habita. Sente que houve um erro, que nasceu em um corpo que não é o seu. Entende que faz parte do sexo oposto ao seu e apresenta uma forte sensação de inadequação ao sexo ao qual pertence.
O transtorno de identidade de gênero não está relacionado à atração por homens ou mulheres, tampouco é considerada um problema psicológico e sim, uma questão de identidade. Por isso, mães e pais não devem encarar uma situação como essa como sendo algum tipo de revolta do adolescente, muito menos deslegitimar o momento.
A Dra. Vânia Calazans ainda completa que muitas vezes surge o desejo de fazer uma cirurgia para mudança de sexo. Essa cirurgia implica em uma série de questões que devem ser acompanhadas por uma equipe multidisciplinar.
13. Se o meu filho demonstrar ou declarar que é homossexual ou possui algum outro tipo de orientação sexual que não a heterossexual, como apoiá-lo?
A questão da identidade sexual nessa fase da vida é um tema delicado e que deve ser tratado com muito tato. É ideal que se abra espaço para que o filho possa compartilhar suas emoções positivas e negativas, dividir dúvidas e experiências, além de objetivos e sonhos. É importante também deixar claro que essas dúvidas fazem parte dessa fase de salto na direção de si mesmo, como um ser individual, que tem uma meta grande que é definir a identidade pessoal. Os pais devem deixar claro que a sexualidade está incluída nessa construção, que não é algo que nasce pronto, mas que faz parte da construção da nossa identidade. Essa construção é longa e complexa.
Muitas vezes os pais acham que estão no caminho certo, mas simplesmente deixando os assuntos mais polêmicos de lado. Sim, eles passam, mas podem gerar transtornos para o resto da vida dos filhos, que precisarão de muito mais do que sugestões para resolvê-los tardiamente. Está mais do que comprovado: não é proibindo que se consegue educar os filhos profundamente. Por mais que alguma situação seja desconfortável ou que você não aprove, preferências sexuais não podem ser impostas ou modificadas.
Ter o apoio e acolhimento dos pais para essa e outras escolhas vai afastar o filho de um mundo perverso, de ‘turmas inadequadas, de escolhas reativas. Vai fortalecê-lo para buscar crescimento contínuo, desenvolvimento, poder pessoal, bons relacionamentos e viver em paz. O amor e a aceitação de nossos pais fazem crescer em cada um de nós a força e a coragem para seguir em frente e realizar sonhos e objetivos saudáveis.
A seguir, algumas mães contam como estão lidando com a puberdade de seus filhos e adolescentes contam como se sentem na puberdade, confira:
Julia, mãe de uma menina de 10 anos:
“Minha filha está com os hormônios a mil, mas ainda sem a menarca. As maiores mudanças que tenho notado são de comportamento e de interesses. Está um pouco mais chatinha e contestadora e mais preocupada com o visual.”
Amanda, mãe de uma menina de 13 anos:
“Acho que toda mãe fica apreensiva com a chegada da puberdade, ainda mais quando se tem uma filha, como no meu caso. Eu nunca tive uma vida sexual saudável devido a vários problemas na infância e pelo tabu que sempre foi falar sobre sexo e masturbação. E por ter tido tantos tabus, tento fazer outro caminho com ela. Ainda me sinto um pouco desconfortável em falar sobre isso, mas pra que não ocorra com ela o mesmo processo que ocorreu comigo e que ocorre com tantas mulheres, eu preciso orientá-la pra que ela perceba que o desejo sexual é inato e comum a todo ser humano, homem ou mulher.”
Vivian, garota de 12 anos:
“Acho que posso contar com minha mãe para a maioria das dúvidas mais básicas. Não digo o mesmo do meu pai ou meu irmão, que sempre aproveitam pra fazer piadas. Mas mesmo assim, tenho vergonha de falar sobre algumas coisas com minha mãe, ela responde, mas sempre parece uma coisa que ela não gostaria de conversar.” – Samira, 13 anos. “Eu estou levando numa boa. Bem no inicio, eu tive umas crisezinhas, não conseguia me sentir bem e fiquei meio depressiva, mas depois de um tempo, tem ficado mais leve, eu tenho conseguido formar um “Eu” mais agradável, sem deixar de ser eu mesma! As mudanças emocionais assustam bem mais que as corporais. Com as corporais, acontece com todo mundo, e mais ou menos do mesmo jeito. As mudanças de personalidade acontecem diferente com cada pessoa, e estão sempre acontecendo.”
Como pode-se perceber pelas orientações profissionais, o diálogo aliado à informações corretas é o melhor caminho para deixar seus filhos à vontade e ajudá-los a terem consciência sobre as mudanças e cuidados que devem ter nessa fase. Desta forma, você diminui as chances deles se desesperarem e buscarem informações que podem não ser as mais seguras, além de fazer com que se sintam mais confortáveis com a puberdade, sabendo que tem alguém com quem contar e de quem receber apoio nos momentos difíceis.
Texto original no site Dicas de Mulher