Crianças Superdotadas: Como Identificar e Lidar com Elas
O que é a superdotação?
A superdotação é um fenômeno que se caracteriza por uma elevada capacidade mental e um nível de performance significativamente superior à média da população. Não é doença, nem transtorno. É um constructo psicológico. Nos Estados Unidos, o sistema educacional tem o objetivo de identificar estudantes, crianças, ou jovens que demonstram grandes habilidades na área intelectual, criativa, artística, capacidade de liderança ou em determinadas áreas acadêmicas específicas, e que precisam de serviços e atividades normalmente não fornecidos pela escola, a fim de desenvolver plenamente essas habilidades. Infelizmente, aqui no Brasil, estamos distantes de chegar neste propósito de atendimento escolar. A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que entre 3,5% a 5% da população brasileira seja composta de superdotados.
Como é medido o grau de superdotação?
O grau das capacidades mentais pode ser medido através da aplicação e análise de testes de inteligência, tais como RAVEN, WISC ou WAISS (para adultos), que apresentam uma escala padronizada de Q.I. (Quociente de Inteligência), e nos indivíduos superdotados o Q.I. é superior à 130, sendo que a média para a população geral é 100 a 110. Entretanto, a caracterização de um indivíduo superdotado vai muito além do QI, um número atribuído por um sistema padronizado, e deve envolver a análise aprofundada da personalidade e das habilidades da criança.
Seria possível ensinar uma criança até se tornar superdotada?
Diferentemente de uma habilidade, que pode ser adquirida através do aprendizado, a superdotação é entendida como um talento, uma aptidão inata; ou seja, o indivíduo nasce superdotado, e necessitará de um ambiente que lhe ofereça condições para exercer essas capacidades de forma adequada. Estes indivíduos, além das elevadas capacidades intelectuais, criativas ou artísticas tem forte espírito de liderança, e frequentemente se destacam numa determinada área acadêmica. Sabe-se que se trata de um fenômeno com marcadores genéticos, porém a vivência num ambiente com melhores recursos e estímulos promovem um desenvolvimento cada vez maior das capacidades mentais do superdotado.
Os superdotados são bons em tudo que fazem?
Os superdotados não precisam ser bons em todas as áreas, para serem considerados como tais. A superdotação pode ser geral ou específica para alguma área do conhecimento. Por exemplo, uma pessoa pode apresentar uma capacidade extraordinária em matemática ou na música, porém na área linguística, suas competências não serem igualmente superiores.
Quais são as principais características das pessoas superdotadas?
Embora não exista um padrão comportamental homogêneo entre os indivíduos superdotados, há um conjunto de características que podem servir como indicativos na avaliação da superdotação. Vale ressaltar que os superdotados podem apresentar diversas dessas características, mas não necessariamente todas elas. Os traços observados são os seguintes:
Desenvolvimento neuropsicomotor precoce: a criança engatinha, anda e fala mais cedo do que o esperado, com vocabulário avançado para a idade;
Habilidade superior para manutenção da atenção;
Ótima capacidade de memória com elevada e rápida capacidade de aprendizagem;
Persistência e motivação para a resolução de problemas;
Aquisição precoce da leitura;
Habilidade acima da média com números e aritmética;
Curiosidade incomum, desejo de aprender e capacidade de elaborar questionamentos de forma ilimitada;
Interesses em áreas específicas, podendo tornar-se especialista no assunto;
Criatividade;
Sensibilidade elevada, podendo apresentar fortes reações em relação a parte sensorial (ruídos, odores, dores), e especialmente à frustração;
Comportamento de liderança;
Energia elevada, o que pode ser confundido com hiperatividade, especialmente quando não estimuladas adequadamente;
Aguçada percepção de relações de causa e efeito;
Facilidade para estabelecer generalizações, ou seja, transferir aprendizagens de uma situação para outra;
Elevado senso crítico: rapidez em identificar contradições e inconsistências;
Pensamento divergente: habilidade em encontrar diversas ideias e soluções para um mesmo problema;
Tendência ao perfeccionismo.
Engajamento ou motivação acima da média de seus pares.
Há diferenças no cérebro das pessoas superdotadas em comparação às pessoas com inteligência normal?
Uma pesquisa conduzida pelo National Institute of Mental Health, nos EUA, mostrou diferenças no desenvolvimento cerebral de crianças com Q.I. elevado, quando comparadas com crianças com inteligência normal. Esse estudo apontou, através do uso de Ressonância Magnética, que a córtex cerebral de crianças com Q.I. superior a 121, atingia sua espessura máxima mais tarde do que o esperado. Por exemplo, aos 12 anos de idade, ao invés de 8 a 9 anos, em média, e após atingir essa espessura, o processo de maturação do córtex ocorria numa velocidade muito mais rápida. Tendo em vista que o córtex cerebral é a estrutura responsável pelas funções mentais mais complexas, e a área cortical pré-frontal relacionada ao planejamento, organização e controle, os dados da pesquisa podem explicar a facilidade da criança em resolver problemas de grande complexidade.
O superdotado pode se deparar com algum tipo de dificuldade?
As crianças superdotadas podem eventualmente sofrer de problemas no ajustamento socioemocional. Uma vez que o desenvolvimento das capacidades mentais e intelectuais encontra-se muito acentuado, e incompatível com os pares da mesma idade, é comum que o superdotado tenha prejuízos na interação social, devido à dificuldade em compartilhar os mesmos interesses. Alguns acabam por se relacionar com crianças mais velhas ou adultos, ou até mesmo podem apresentar um grande apreço pela solidão. Se a criança superdotada não for auxiliada pela família ou até mesmo por um profissional para lidar de modo adequado com sua condição, esse desajuste socioemocional pode evoluir para problemas de personalidade ou até depressão e ou traços de agressividade. Contudo, se o nível de dificuldade social for muito grande, pode ser que a criança não seja somente superdotada, mas, pode também apresentar uma condição chamada Síndrome de Asperger. Portanto, é fundamental que a criança com características de superdotada ou com muita dificuldade social ou emocional seja avaliada por um neuropsicólogo, para que seja apurado o seu devido diagnóstico e orientações sobre o seu desenvolvimento.
Como lidar com um filho superdotado?
É no campo emocional que se encontram algumas das maiores demandas dessas crianças, e dessa forma, os pais devem auxiliá-las a ter um desenvolvimento psicológico mais saudável possível. A superdotação só oferece vantagens se os aspectos psicossociais se encontram ajustados.
Quais são as dicas para os pais?
Oferecer um ambiente com recursos que estimulem continuamente as capacidades mentais da criança;
Evitar a supervalorização e as expectativas quanto ao desempenho da criança; ela mesma, em geral, já é muito exigente, e os pais devem aceitar falhas e ajudar a criança a enfrentar dificuldades de qualquer ordem.
Ajudar a criança a lidar com frustrações emocionais; apesar do superdotado não passar por dificuldades no aspecto acadêmico, o fracasso faz parte de outros contextos da vida, e prepará-lo para isso é favorecer seu desenvolvimento emocional saudável;
Não se esquecer que, embora possua capacidades avançadas para sua idade o superdotado deve ser tratada de acordo com a sua faixa etária de desenvolvimento.
O que fazer se você suspeita que seu filho é superdotado?
Caso você perceba que seu filho está muito diferente dos amigos, e que sua capacidade de aprendizagem e habilidade mental são elevadas, leve-o para fazer uma avaliação específica com um psicólogo experiente neste assunto, ou, de preferência, um neuropsicólogo, que irá fazer uma avaliação ampla com aplicação de testes de inteligência, avaliará a personalidade, o aspecto social e afetivo da criança. Uma avaliação neuropsicológica poderá precisar se as potencialidades estão realmente acima da média de outras crianças.
A partir de que idade é possível avaliar?
A padronização dos testes de QI (Escala Weschler para crianças – WISC), com tabelas normativas existe a partir dos 6 anos completos. Antes desta idade é possível fazer uma avaliação qualitativa, mas para o cálculo do QI é necessário que a criança tenha 6 anos completos. Outros testes podem ser aplicados antes dos 6 anos, mas, não tão completos quanto o Wisc, em sua versão IV.
O que um psicólogo habilitado pode fazer para ajudar?
Um psicólogo e/ou neuropsicólogo treinado pode: a) detectar possíveis pessoas altamente habilidosas por meio de avaliações específicas; b) no caso de crianças, orientar suas famílias e professores; c) encaminhar crianças altamente habilidosas à escolas que possam suprir a necessidade de estimulação, enviando relatórios das avaliações feitas nas diferentes áreas; d) orientar, aconselhar e encaminhar superdotados, desafiando-os a se desenvolver psicologicamente de forma global.
Por Claudia Hakim
Advogada Especializada em Direito de Educação e Especialista em Neurociência e Psicologia Aplicada Autora do Blog e grupo no Facebook voltado para a Educação de Crianças Superdotadas : “Mãe de Crianças Superdotadas : www.maedecriancassuperdotadas.blogspot.com Membro Fundadora do Instituto Brasileiro de Superdotação e Alterações do Neurodesenvolvimento (IBSDND) Contato : claudiahakim@uol.com.br/ Fone : (11) 35113853
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